Os superpoderes de Chrissie Wellington
Fonte Site - http://www.mundotri.com.br/
Neste último domingo, dia 18 de Julho de 2010, foi a data de um dos momentos mais marcantes da historia do triathlon. Chrissie Welligton, que desde sua estréia em provas de Ironman na Coréia em 2007, não perdeu nenhuma competição na distância Ironman, e venceu por três vezes no Havaí (o campeonato mundial da distancia), bateu o recorde mundial completando o Roth Challenge em 8h19min13seg, cerca de doze minutos mais rápido do que a sua antiga marca de 8h31’39”.
Muitos detalhes envolvem uma performance como essa, uma combinação de fatores que se encaixam de maneira quase que perfeita em uma única prova e que, às vezes, nos passam despercebidos.
Comemoração tradicional de Chrissie no Challenge Roth deste ano
A prova
O circuito de Roth sempre foi palco de tempos rápidos e recordes mundiais.
O percurso da natação acontece em um canal estreito, o que ajuda os atletas a nadarem em grupos e assim se aproveitarem da “esteira” gerado pelo atleta da frente, além do uso liberado do wetsuit, que sempre acelera a performance dos nadadores devido à maior flutuabilidade.
Ao contrário do que se pensa, o ciclismo tem algumas subidas, porém são curtas e íngremes, e são compensadas por longas e suaves decidas, combinação perfeita para tempos rápidos, pois os atletas geralmente atacam as subidas. Isso segura a alta média de velocidade, e o asfalto em perfeitas condições e pouco vento.
A corrida é plana, e em terra batida, prorrogando a sensação de pernas “duras” que ocorre nos estágios finais da maratona com um Clima ameno, temperatura na casa dos 20 graus.
Outro fator que sempre ajuda uma quebra de recorde é a pressão de outros competidores, e competidores no percurso para lhe dar ritmo. A segunda colocada foi a Rebeca Keat, que em 2009 fez 8h39 e é uma das melhores corredoras do esporte, Belinda Granger e Tereza Macel (venceu o Ironman Brasil 2010) também estavam presentes. Chrissie está em um nível tão alto que, com sua 7ª colocação geral, usou o ritmo dos homens como “pacing”.
Vale lembrar também que vários negócios são envolvidos em uma quebra de recorde mundial. É normal que um atleta receba bônus de seus patrocinadores e do organizador do evento, o que sempre é um incentivo a mais no triathlon, pois estes atletas não estão no mesmo patamar de remuneração como acontece nos esportes milionários como futebol, tênis, golfe ou basquete.
O fenômeno Chrissie Wellington nunca perdeu uma prova de Ironman
A atleta
Morei com a Chrissie por 3 meses em 2007 quando ambos fazíamos parte do teamtbb, na época o Reinado Colucci também morava em nossa casa e foi uma experiência incrível ver em primeira mão o que uma atleta precisa enfrentar para vencer um título no Havaí. A Chrissie tem várias características a seu favor:
Começando pelo talento físico, que é visível em seu biotipo com pouca porcentagem de gordura. Ela foi campeã mundial amadora em 2006 e com pouco treino e experiência correu sua primeira maratona em 3h08.
Sua força mental, dedicação e autoconhecimento são impressionantes. Já morou e trabalhou nas montanhas do Nepal, onde treinou MTB antes mesmo de se aventurar no triathlon; já explorou a África e América do Sul, o que transmite em um espírito aventureiro nas provas, sem medo de arriscar e desbravar o desconhecido. Durante os treinos ou competições é sempre muito focada e ignora a presença de outros atletas.
E, por último, os treinos, que são tão importantes para desenvolver um talento desses. Quantos atletas talentosos, dedicados, e mentalmente fortes não estão por aí treinando “errado”? A Chrissie teve excelentes mentores e treinadores nos últimos anos que a ensinaram os caminhos do sucesso em relação ao método de seus treinos. Com frequência ela recebe críticas em relação à escolha de seus equipamentos (ex: não usa capacete aero) ou metodologia de treino (não corre de monitor cardíaco e treina por percepção de esforço). Contudo, ela carrega uma filosofia de treinos na qual, quando não se está treinando, se “desliga” do mundo do triathlon e investe seu tempo em outros projetos (ex: caridade ou ONGs).
O que Wellington vai aprontar em Kona este ano?
Sobre doping
É normal e esperado que o público ou a mídia questione o uso de substâncias ilícitas em uma performance como essa, até mesmo pelo histórico de recorde mundiais em outros esportes estarem ligados ao abuso de doping. Porém, devido aos fatores acima, além do fato que a Chrissie foi testada diversas vezes fora de competição, e antes/depois a prova, além de minha experiência morando e treinando com a atleta, fico satisfeito em dizer que essa marca não será manchada por uma prática ou substância que seja considerada doping.
O que vem agora?
Nada é impossível com a Chrissie, seria um sub 8h possível? Ou um Top 10 geral em Kona? Quem arrisca a colocar limites em sua carreira?
Bons treinos ...
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