sábado, 9 de julho de 2011

"O CERTO E O ERRADO"

Fonte Site - http://www.prologo.uol.com.br/

Ricardo Arap

Existem as verdades relativas, que são o ponto de vista de cada um e existem os pontos incontestáveis, sem exceção, verdades absolutas, como um mais um são dois e tudo que nasce morre um dia. Temos vários exemplos de experiências como essas no ciclismo e as vivenciamos em nosso dia-a-dia.

Pedalar certo é pedalar trancado ou girando em alta rotação? Carbono, alumínio ou titânio? Tubular ou clincher? Nas subidas temos de pedalar sentados, alternar posições ou de pé sempre? Seguramos em cima, ao lado ou embaixo do guidão? Será que estou na postura certa em cima de bike? Freamos ou não nas descidas?

Janete Evans, a grande nadadora americana no início dos anos 90, com um corpo pequeno e um estilo feio de braçadas assimétricas, foi imbatível nos 400 m e 800 m nado livre. E onde estava sua eficiência? Na excelência de técnica de alavancas dentro da água, na sua flutuabilidade e coordenação de pernas, sem contar, é claro, na sua dedicação máxima. Quem poderia apostar nela simplesmente pela sua forma de nadar?

A disputa dos dois melhores ciclistas da temporada passada, Alberto Contador e Andy Schleck, demonstrou muito essa variação de estilos, em que um variava muito a posição na subida, além de um rotação de giros maior, enquanto o outro se mantinha mais tempo em cima do selim da sua bicicleta, salvos seus constantes sprints de ataque e tentativas de fugas.
O triatleta paulistano Sérgio Menicone, um amigo meu, conseguiu no ano passado o quarto lugar na seletiva do Canadá e a vaga para o Ultraman do Havaí, que acontecerá no segundo semestre deste ano, desobedecendo há muito tempo várias considerações básicas da técnica de pedalada, com um estilo próprio, bastante travado, que lembra mais um iniciante que não sabe para que existem tantas relações e o que fazer com elas − e mesmo assim possui um pedal constante e eficiente para o tipo de desafio que escolheu para realizar.

Outras contradições desse jogo de certo e errado são as experiências que presenciamos na rotina daqueles que frequentemente usam a bike. Quantos exemplos não vemos de pessoas que começam a pedalar de forma sisuda, carrancuda e, ao terminarem suas tarefas, vão embora flutuando, desabrochados, bem mais leves, alegres e sorridentes?

E o inverso acontece, quando alguns começam a pedalar com a intenção de curtir um belo dia e voltam de cabeça quente para suas casas, seja por um problema mecânico, pneu furado ou por uma discussão acalorada com um motorista imprudente.

O episódio do motorista que atirou seu carro contra ciclistas em Porto Alegre me faz refletir no argumento da sua defesa para tal atitude. O quanto diversas vezes nós erramos de modo impulsivo e intuitivo aos nos sentirmos ameaçados, interagindo com o agressor com as mesmas ferramentas, ou seja, mais agressividade, e várias vezes de modo covardemente coletivo?

Não são raras as situações quando alguém que faz parte deste universo de duas rodas entra no seu carro e passa a agir da mesma forma que todos esses inconsequentes motoristas, desconsiderando o esporte que escolheu para praticar, colocando em risco o seu próximo, seja ele um ciclista ou um simples trabalhador que segue seu caminho de volta para casa com sua bicicleta.

É bem difícil determinar o que é certo ou errado, ainda mais por conta dos nossos pontos de vista, das nossas adaptações, dos nossos estímulos, mas podemos, de bicicleta, de carro ou a pé, buscar fazer o que nos traga realização e felicidade, sem desrespeitar e desconsiderar as verdades de cada um.

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