sábado, 4 de junho de 2011

"GUILHERME MANOCCHIO RELATA SUA VITÓRIA NO IRONMAN BRASIL 2011. DEPOIMENTO IMPERDÍVEL ... LEIAM!!!"

Diário até o Ironman: Guilherme Manocchio em seu relato final


03/06/2011 por MundoTRI Triathlon

 

A primeira coisa que gostaria de dizer é: Não sou super-humano. Não fiz nada além do que escrevi a vocês. Priorizei a recuperação entre as sessões e fiz o meu melhor em quase todas elas. Aconteceu algo interessante, após o dia D, ouvindo o Eduardo Sturla numa entrevista, percebi nele uma força mental muito intensa. Ele também falou que era normal, inclusive começou muito mal no triathlon e cresceu pouco a pouco até ser 4x campeão dessa prova! Tudo pelo seu esforço e determinação. Uau!!!

Quanto ao diário, deixei de postar apenas algumas médias e tempos quando o resultado do trabalho estava aparecendo, como por exemplo, quando fiz o meu último 180 km, onde fiz 39,8km/h. Isso estimava um tempo de 4h33min para o percurso da bike. Fiz esses treinos sem rodas, sem ninguém ao meu lado, sem capacete aero ou qualquer outra coisa, somente com a alimentação específica que usaria no dia (Muitos gels e Gatorades) e com muita determinação.

Quanto à corrida, o último treino a ritmo de prova fiz 32 km a 4.01 de média, e desses, com 25km a 3.50 de média. Havia dito que corri 2h a ritmo de prova, na época. Isso projetava uma maratona a 2h50min ou pouco mais.

Estou dizendo essas coisas agora para salientar que eu queria muito ir para prova com esperança e chances de vitória. Entendo que meus concorrentes (e muitos deles meus exemplos e ídolos) são atletas fenomenais e treinam tão duro quanto podem. São pessoas muito fortes e gostaria de ter chances com esses caras.
Uma coisa interessante foi que na minha preparação, quase não tive percalços. Fiquei gripado uma semana após competir no Brasileiro de Longa, mas isso não me fez perder treino nenhum. O resto foi perfeito, com altos e baixos advindos do treinamento mesmo. Acho que o diário Mundotri, foi de grande valia, pois não me deixava desistir de treinar nos dias em que eu estava exausto. Motivava-me o treino duro para passar o exemplo. Sem contar os votos de boa sorte, isso ajudou muito. A torcida e o carinho que todos demonstraram por mim, conhecendo a minha luta nesses 5 meses, foi um fator psicológico decisivo na prova.

A prova

Apesar de já ter dado entrevista à revista Mundo Tri pessoalmente, gostaria de dizer algumas de minhas batalhas interiores e experiências também no diário.
Nadei esquisito. Não entendia muito bem o porquê estava nadando cansado, e isso durou 1900m exatos. Parecia que não estava rendendo e fiquei um pouco preocupado. Após o retorno voltei a nadar melhor, mais confiante e bem mais rápido. Aproveitei e galguei algumas posições saindo alguns segundos à frente de um grande grupo contendo os favoritos (exceto Chicão que nadou 6min melhor, um verdadeiro torpedo).

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Foto: Adriano Ramos

Comecei pedalando encaixado, mas como tive uma transição regular, o Eduardo Sturla e o Ezequiel começaram a bike na minha frente. Pensei: Ok! Está apenas começando. Estava me sentindo bem, quando o Chris Mcdonald passou, o Santiago em seguida e logo veio à minha mente: Opa! Interessante, preciso manter-me próximo nessa hora. 30 km depois, Galindez passou voando. Pensei na hora: Agora o bicho vai pegar.

Pelo treinamento a que me submeti, não queria ficar pra trás na bike. Não mesmo. Custasse o que custasse. Mesmo que me nem conseguisse correr! Ano passado, pedalei mal e fiquei o ano todo com isso na cabeça. Esse ano, faria de tudo para não repetir isso. Andamos seguindo o Oscar por cerca de 20 km quando alguns competidores começaram a demonstrar sinais de cansaço. Estava realmente muito forte, não sabia quanto mais ia aguentar.

Avistei o Sturla (já o 2º lugar) e achei que deveria aguentar até ali. Não seria possível que continuássemos a forçar daquela maneira ainda depois de nos aproximar dele. E foi o que aconteceu. Chegamos no Sturla. Em uma subida, tentei passá-los para dizer que estava ali e confiante. Fiquei 5 segundos na frente e o Sturla voltou a me passar voando.

A partir daí, tive que aguentar o que pude. A cada km Sturla acelerava mais. Então no km 120, aproximadamente, não consegui mais acompanhá-lo. Ainda assim, mantive uma grande força, usei toda minha concentração para manter o ritmo e a cadência até o final. A moto de 2º lugar estava comigo. Eu abrira dos demais. Estava arriscando tudo agora, pois já estava cansado. Se ficasse em pé na bike meus músculos se contraiam principiando uma câimbra, mas no clip ainda ia muito bem. Cansei muito no vento perto do aeroporto. Doeu um bocado, mas não ia desistir de acelerar, no lema “custe o que custar”.
Alimentei-me e hidratei-me muito bem nessa hora. Desci da bike. “Cara, vc conseguiu” eu dizia a mim mesmo. Ano passado, passei devagar esse final de ciclismo e agora consegui a média que sonhei: 4h29min14seg pelos meus cálculos… Já estava muito feliz. Sem palavras!

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Foto: Adriano Ramos

Fiz mal a transição, pois estava acabado. Saí correndo com as coxas horrivelmente doídas e pesadas. Eu pensava: Socorro, alguém me ajude! Consegui melhorar depois do km 4 ao caminhar alguns passos na hidratação e voltar a correr. Meus quadríceps soltaram e comecei a correr confortável e rápido. Como tinha sonhado.

Gritos e aplausos repercutiam em meu interior. Rezava agradecendo. Amava o momento. Amigos se emocionavam. A família sorria emocionada. “Estou bem, vai dar certo, só mais 25 km”. “Só mais 20 km”. “Só 10 km… 40min a mais e chego em casa, vou conseguir, vou conseguir!”.
“Está 1min do Sturla, Manocchio” – me avisaram. “Se quiser ganhar tem que ir pra cima.” Ganhar? Vencer o IRONMAN BRASIL? Já estou no meu limite, consegui por 7h30 dar meu máximo, mas mesmo assim tenho de aproveitar a chance.
Puxei o ritmo. Aumentei a passada, e as câimbras teimavam em fisgar e soltar. Não importa. Vou com tudo, quero vencer. Trabalhei no limite até ter contato visual próximo. 25seg… “Será que vou vencer?”. Achava que sim. Mas não contava com a força mental do Sturla que voltava a aumentar a velocidade de forma impressionante. Também meu corpo gritou comigo rasgando as duas coxas numa repentina câimbra muito mais intensa que as anteriores. Não deu mais. Simplesmente não aguentava.

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Foto: Wagner Araújo

Então ri e chorei, vivi a emoção que muitos testemunharam naquela reta. Eu afirmo que se me esforcei ao limite no treino e na prova, essa reta de chegada foi a coisa mais linda. Compensou todo esforço com folga. E foi o momento em que percebi que amava o esporte. Amava o modo como me sentia, o fluxo de energias positivas que me acompanhou durante a prova, Deus que esteve comigo o tempo todo me dando forças, minha família, meus grandes amigos, enfim, toda minha vida.

Por esse motivo cheguei tão feliz. Isso, aliado ao fato que vi 8h17min no placar! Não tinha idéia do tempo até então e quando vi isso, gritei. Dei conta que foi um marco na minha vida. Foi demais!

Considerações

Eu disse aos meus alunos: “Não importa se deu vontade de desistir quando o vento assolou sua bicicleta no ciclismo, se achou que não ia dar quando subia correndo para Canasvieiras. Não importa! Importa ter passado por isso, ter magoado sua vontade. E, depois de magoado, achar a motivação dentro de si. Analisar seu próprio eu e apenas com esse desejo de vencer, ir adiante. Outra pedalada, outro passo e ao final de um longo e grande dia, ter olhado para trás e dito: eu venci!”.
Continuo aprendendo a cada momento, desejo que seja assim sempre. Pelo meu resultado estou muito empolgado, mas somente com trabalho duro daqui pra frente é que serei realizado como atleta, como estou nesse momento. Antes achava que era possível, agora sei disso. Não precisa nada além de dedicação, força de vontade e tentativas. Assim é a roda da vida. Espero agora continuar passando o exemplo de que é possível conseguir seus objetivos, sejam físicos, psicológicos ou materiais. Aquele seu emprego dos sonhos, a casa própria, uma família… Se realmente colocar toda a sua energia nisso e se for algo justo aos olhos de Deus você irá conseguir. Por que não?

Guilherme Manocchio

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